segunda-feira, 4 de agosto de 2008

..ido




A cada duas luas os sintomas reaparecem
sempre tantas coisas pra serem ditas que quando
as palavras somem levam junto o sossego,
o espontâneo da casa, a alegria por vezes...

E nessa noiteLUAilumina, o desassossego que me preenche
e tras detras do meu ceioVentre
há nada mais que tempo prudente de silêncios, de sonos,
de canções sem melodias, de ventos.

O medo de explodir é o mesmo de iludir ou me iludir
rege meu coração e minha mente, ou tudo que sou
reverso meu pelos dias, ALICE sem maravilhas
de não saber em que lua figuram meus sonhos nus...

ao redor e envolto em seu próprio ser, meu grito emudece,
como sempre foi! procuro a quem perguntar "até quando"?
-não sei de onde possa vir qualquer resposta ainda que vaga!
algo que me diga que sim, ainda posso GRITAR, gritar é direito teu
ou ainda que me reprima dizendo: GRITAR não mais, isto nunca te pertenceu!
e nada nem ninguém eu vejo que possa, por liberdade, me doar uma provável solução...

A lua já vai alta, nem clareia mais a sala!

NOITE ESTRANHA, JULHO DE UM ANO QUE NÃO É, MADRUGADA, APÊ

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Tiro de misericórdia



O menino cresceu entre a ronda e a cana
Correndo nos becos que nem ratazana.
Entre a punga e o afano, entre a carta e a ficha
Subindo em pedreira que nem lagartixa.
Borel, juramento, urubu, catacumba,
Nas rodas de samba, no eró da macumba.
Matriz, querosene, salgueiro, turano,
Mangueira, são carlos, menino mandando,
Ídolo de poeira, marafo e farelo,
Um deus de bermuda e pé-de-chinelo,
Imperador dos morros, reizinho nagô,
O corpo fechado por babalaôs.

Baixou oxolufã com as espadas de prata,
Com sua coroa de escuro e de vício.
Baixou cão-xangô com o machado de asa,
Com seu fogo brabo nas mãos de corisco.
Ogunhê se plantou pelas encruzilhadas
Com todos seus ferros, com lança e enxada.
E oxossi com seu arco e flecha e seus galos
E suas abelhas na beira da mata.
E oxum trouxe pedra e água da cachoeira
Em seu coração de espinhos dourados.
Iemanjá, o alumínio, as sereias do mar
E um batalhão de mil afogados.
Iansã trouxe as almas e os vendavais,
Adagas e ventos, trovões e punhais.
Oxum-maré largou suas cobras no chão.
Soltou sua trança, quebrou o arco-íris.
Omulu trouxe o chumbo e o chocalho de guizos
Lançando a doença pra seus inimigos.
E nana-buruquê trouxe a chuva e a vassoura
Pra terra dos corpos, pro sangue dos mortos.
...


João Bosco e Aldir Blanc
...obrigada!